A Karen me disse que no livro “O homem que comeu de tudo”, de Jeffrey Steingarten, há um capítulo sobre doces onde ele defende o açúcar refinado. Para ver quais eram os seus argumentos resolvi ler o livro, ou ao menos esse capítulo específico.
Fui até a Livraria Cultura da Av. Paulista, procurei o livro e não achei. Pedi ajuda a uma funcionária, então ela disse: “Ah, é aquele livro mordido né? Vou mandar buscar um no estoque.” Não havia entendido e fiz cara de “???”. Após cerca de 20 minutos ela me chamou e mostrou o livro, e quando vi o tal “canto mordido”, comecei a rir sozinho, desta vez foi a vez dela de fazer cara de “???” e se afastar, provavelmente achando que eu havia deixado cair alguns parafusos.
Quando chequei o preço (R$ 70,00) resolvi ler apenas esse capítulo ali mesmo na livraria. Li, entendi, mas não concordei com ele. Para ele, o açúcar deveria fazer bem para a nossa saúde basicamente por dois motivos: (a) Gostamos do sabor doce instintivamente (geneticamente) como resultado da nossa evolução; (b) Precisamos da glicose para gerarmos energia e manter o nosso corpo na temperatura ideal, “porque somos mamíferos” (como dizia aquele slogan de uma empresa de leite).
Bem, na minha opinião pessoal, esses argumentos são até fáceis de serem refutados:
(a) Sim, gostamos do sabor doce instintivamente, provavelmente devido à evolução genética. Assim como vários outros mamíferos (teste com o seu cachorro, veja se ele prefere algo doce ou amargo). Porém, nós, Homo sapiens sapiens (assim mesmo com 2 sapiens), estamos na Terra há dezenas de milhares de anos, talvez até 100.000 anos, comendo e gostando de frutas doces. Mas e o açúcar? Fiz uma pesquisa rápida no Google e li que a primeira menção do açúcar na Europa Ocidental foi durante a invasão da Índia pelo Alexandre (o Grande, 356 a.C. – 323 a.C.). Lá eles encontraram um tal de “sal indiano” que era doce e branco e, como havia cana de açúcar por lá, os historiadores acreditam que se tratava do açúcar refinado (ou algo similar). Mas, o açúcar só se popularizou na Europa após Portugal começar a plantar a cana de açúcar no Brasil, no século XVI. Ou seja, não acho que 400 anos sejam suficientes para termos uma evolução genética. Gostamos de doces, porque já havia alimentos doces naturalmente, sem a adição de açúcar, essa sim uma evolução genética para que algumas plantas pudessem espalhar as suas sementes através dos mamíferos.
(b) Sim, a glicose é o principal combustível para ocorrer o ciclo de klebs (lembrando as aulas de biologia do cursinho) e gerar energia para o nosso corpo. Porém, o nosso corpo não extrai a glicose apenas do açúcar. Os principais alimentos, que permitiram a fixação do homem com o início da agricultura, são fontes ricas em amido, de onde extraímos a glicose: arroz, milho, trigo (e derivados), batata e outros. Esses alimentos nos deram a possibilidade de termos uma fonte de energia renovável e estocável. E desde então…. assim caminha a humanidade. A diferença é que esses alimentos básicos não são apenas fonte de glicose, mas também de outros nutrientes e aditivos. O açúcar nos fornece apenas glicose e frutose. E com o vício do açúcar, acabamos sempre consumindo muito mais glicose que o necessário, então o corpo estoca essa energia na forma de gordura. No início, são apenas pneuzinhos na cintura…. e com o tempo, você acaba sem cintura…
Mas, gostei do livro dele e já voltei mais vezes na livraria para ler outros capítulos. Estou economizando para comprar.